O trabalho do curador de cinema vai muito além da simples escolha de filmes. Segundo Gustavo Beck, curador, programador e consultor com quase 20 anos de experiência em festivais internacionais, a curadoria é um exercício de interpretação cultural, construção de narrativa e articulação entre obras, contextos e públicos.
Em um cenário global cada vez mais conectado, o papel do film curator ganhou centralidade nos grandes eventos cinematográficos, como Viennale, Rotterdam, IndieLisboa e Cinéma du Réel – todos com os quais Gustavo Beck já colaborou como programador. Mas afinal, o que exatamente faz um curador de cinema? E por que esse profissional se tornou tão relevante?
Curadoria cinematográfica: mais do que selecionar filmes
De acordo com Gustavo Beck, a curadoria em cinema exige um olhar atento não só para as obras em si, mas também para as conexões que podem ser criadas entre elas. Trata-se de construir discursos por meio de filmes, organizando sessões que possam dialogar com questões contemporâneas, estéticas ou históricas, aponta o curador.
O curador de cinema é responsável por montar mostras temáticas, retrospectivas, programas especiais e até mesmo selecionar os filmes em competição de um festival. Isso envolve pesquisa, visão crítica e sensibilidade para o momento cultural em que o festival está inserido.
O curador como mediador cultural
Conforme destaca Gustavo Beck, o curador atua como um mediador entre o realizador e o público, facilitando o entendimento e a recepção da obra. Muitas vezes, é ele quem escreve os textos de apresentação das sessões, organiza mesas de debate e convida cineastas para conversas com o público.

Além disso, o film curator colabora com museus, galerias e cinematecas, promovendo o cinema como arte visual e expandindo suas possibilidades de exibição. Experiência que Gustavo Beck acumulou ao organizar exibições em instituições como o Guggenheim em Nova Iorque, o Reina Sofía em Madrid e o Centre Pompidou em Paris.
Programação internacional e intercâmbio cultural
Para Gustavo Beck, a curadoria também é um espaço de articulação entre culturas. Trabalhando em mais de 25 países, ele ajudou a consolidar o papel dos curadores como embaixadores de cinematografias nacionais, revelando talentos emergentes e resgatando obras pouco conhecidas para novos públicos.
Essa dimensão internacional do trabalho exige domínio de múltiplos contextos culturais, conhecimento profundo da história do cinema e capacidade de diálogo com realizadores, distribuidores, críticos e instituições.
O futuro da curadoria de cinema
Com o crescimento das plataformas digitais e a multiplicação dos festivais híbridos, o papel do film curator se expande ainda mais. Segundo Gustavo Beck, o desafio atual é manter a relevância da experiência coletiva do cinema, mesmo em tempos de consumo individualizado. A curadoria, nesse contexto, torna-se um instrumento essencial para destacar obras em meio ao excesso de oferta.
Além disso, curadores estão sendo cada vez mais chamados a atuar como consultores para fundos de financiamento, laboratórios de desenvolvimento e mercados de coprodução.
O curador de cinema é um profissional-chave na construção da cultura cinematográfica contemporânea. Seu trabalho exige pesquisa, sensibilidade, repertório e visão crítica. Como mostra a trajetória de Gustavo Beck, a curadoria vai muito além da escolha de filmes – ela é uma prática de criação, tradução e mediação que transforma festivais em experiências únicas e memoráveis.
Autor: Geller Semynora